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DINIS H. G. NUNES
( Portugal )
SULSCRITO 3 junho 2010. SULSCRITO antologia da indiferença [Tavira, Portugal: 4águas editora] 87 p.
ISSN 1646-7744 Ex. bibl. Antonio Miranda
DEUS NÃO É FANTOCHE ... SENÃO EXISTIA
não conheço maior ficção que a vida
e mesmo quando ela acaba, continuamos a ficcionar:
ficcionamos tanto desde a invenção da escrita, que criamos
inúmeros deuses à medida das posses de cada um.
adoro sobretudo o elefante: garante-me paz, proteção e
memória do cemitério, um deus só, sabe-me a pouco e torna-se
demasiado monótono, monogâmico, monocórdico, chato pronto
— daí dizer-se religião monoteísta, além do money envolvido,.
claro, acresce essa carga fascista.
VELHICE
depois de todas a tragédias
que resta para viver?
uma rotina doméstica
um amor tequila
uma paisagem ecstazy
uma praia de cães histéricos
recordações rememoradas vezes sem conta
por velhos amigos saudosistas relapsos e frouxos
em esplanadas coam vistas para gajas que nos fogem os miolos
e depois? ah os aniversários, as festas e as comemorações banais
os casamentos acabados bestialmente em cornos bestiais
os eventos privados de suítes bacanais
swings sodomitas e escapadelas de armários e guarda-fatos
fruto de longas insónias meditadas à mesinha de cabeceira
ou na net puta toda a tua imaginação rameira
deram lugar a distintos funerais e divórcios da vida
um dia estaremos impávidos e serenos na nossa missa de
corpo-presente
espreitando o sorriso do nosso cadáver triste
inaceitável e incrível: mas fica mal falar, comprendes?
*
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Página publicada em abril de 2023
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